O ferro é um dos elementos mais abundantes na natureza e está presente em muitas fontes de água, especialmente nas águas subterrâneas brasileiras.
Embora seja um mineral essencial para o bom funcionamento do nosso organismo, água com ferro em excesso pode trazer diversos problemas tanto para a saúde quanto para o uso cotidiano.
Este artigo explora os benefícios e riscos associados à presença de ferro na água que consumimos, esclarecendo como identificar este problema e quais medidas podem ser tomadas para garantir uma água segura e saudável.
A presença de ferro na água
O ferro é o metal mais comum encontrado nos solos brasileiros, sendo que estudos apontam que cerca de 70% dos poços artesianos no país apresentam excesso deste elemento em suas águas.
Na natureza, o ferro e o manganês são encontrados quase sempre juntos, principalmente em águas subterrâneas e, especialmente, nas regiões litorâneas do Brasil.
Nas águas subterrâneas, o ferro aparece na sua forma reduzida (Fe²⁺), que é solúvel e invisível.
No entanto, quando esta água entra em contato com o oxigênio do ar, o ferro se oxida, transformando-se em Fe³⁺, que precipita e confere à água uma coloração avermelhada característica.
É justamente esta transformação que pode causar diversos problemas práticos e potenciais riscos à saúde.
Água com ferro: benefícios
Apesar dos problemas associados ao excesso de ferro, há situações em que a adição controlada deste mineral na água pode trazer benefícios significativos para a saúde pública.
Um exemplo disso é o projeto “Água de Ferro”, desenvolvido em Belo Horizonte, que comprovou a eficácia da fortificação da água com ferro e vitamina C para reduzir a anemia em crianças.
O estudo avaliou 318 crianças entre seis meses e seis anos que consumiram água fortificada em creches. Os resultados foram impressionantes: a prevalência de anemia caiu de 29,3% para apenas 7,9% após cinco meses.
Além disso, observou-se uma redução nos índices de déficit de crescimento e baixo peso entre as crianças participantes
Segundo o pesquisador Flávio Capanema, que participou do estudo, a água fortificada não possui efeitos colaterais importantes e apresenta uma excelente relação custo-benefício: “O custo é muito baixo, a efetividade é muito alta e a administração é simples”.
Esta abordagem pode ser uma solução eficaz para combater a anemia ferropriva, especialmente em populações vulneráveis.
Riscos do excesso de ferro para a saúde
Apesar de sua importância vital, o ferro em excesso pode ser tão prejudicial quanto sua deficiência.
Quando ingerido em grandes quantidades por meio da água ou alimentos, o ferro pode se acumular no organismo, provocando uma condição conhecida como sobrecarga de ferro ou hemocromatose.
Os primeiros sintomas do excesso de ferro no organismo incluem diarreia, vômito e lesões do trato digestivo.
Entretanto, o consumo a longo prazo de água com ferro em altas concentrações pode desencadear problemas muito mais graves, como:
- Cirrose e câncer de fígado, devido ao acúmulo de ferro neste órgão;
- Diabetes, pois o excesso de ferro pode prejudicar a produção de insulina;
- Problemas cardíacos, incluindo insuficiência cardíaca;
- Piora dos efeitos do colesterol ruim, aumentando o risco de doenças cardiovasculares;
- Manchas na pele e artrite;
- Infertilidade e impotência;
- Hipotireoidismo e fadiga crônica.
É importante ressaltar que estes problemas são decorrentes de uma exposição prolongada a altos níveis de ferro, muitas vezes associada a condições hereditárias que favorecem o acúmulo deste mineral no organismo.
Para a maioria das pessoas, o consumo moderado de água com ferro em pequenas quantidades não apresenta riscos significativos à saúde.
Problemas práticos causados pelo excesso de ferro na água
Além dos potenciais riscos à saúde, o excesso de ferro na água causa diversos problemas práticos no dia a dia, afetando a qualidade de vida e gerando transtornos domésticos:
Problemas estéticos e sensoriais
A presença de ferro em excesso na água pode causar mau cheiro, mesmo quando a água está dentro dos padrões exigidos por lei.
Outro problema comum é o sabor metálico desagradável, que compromete não apenas o consumo direto da água, mas também afeta o sabor dos alimentos e bebidas preparados com ela, como café e chá.
Danos a roupas e utensílios
O ferro oxidado forma manchas amareladas ou avermelhadas em tecidos, roupas e utensílios sanitários como pias e vasos sanitários.
Estas manchas são difíceis de remover e podem arruinar permanentemente tecidos claros.
Problemas em encanamentos e eletrodomésticos
As partículas de ferro precipitadas podem causar incrustações nos canos, reduzindo o fluxo de água e danificando a rede hidráulica.
Eletrodomésticos como máquinas de lavar roupa e chuveiros também sofrem com o acúmulo de ferro, tendo sua vida útil reduzida.
Problemas biológicos
O excesso de ferro na água favorece a proliferação de bactérias ferruginosas, que se alimentam deste mineral e formam biofilmes nas tubulações, agravando problemas de contaminação e mau cheiro.
Métodos de tratamento para remoção do ferro
Para aqueles que enfrentam o problema do excesso de ferro na água, existem diversas soluções de tratamento disponíveis.
A escolha do método mais adequado depende da concentração de ferro presente e das características específicas da água:
Aeração
A aeração é um método simples que consiste em expor a água ao oxigênio do ar, promovendo a oxidação do ferro solúvel (Fe²⁺) para ferro insolúvel (Fe³⁺), que precipita e pode ser removido por filtração.
Este processo pode ser realizado através de queda d’água ou por sistemas de aeração forçada.
Cloração
A aplicação de cloro ou hipocloritos também promove a oxidação do ferro, facilitando sua remoção.
Este método tem a vantagem adicional de promover a desinfecção da água, eliminando microrganismos patogênicos.
Flotação e floculação
Estas técnicas utilizam produtos químicos para aglutinar as partículas de ferro, formando flocos maiores que podem ser removidos mais facilmente por flotação (quando os flocos sobem à superfície) ou por sedimentação (quando os flocos se depositam no fundo).
Processo de complexação
Este método utiliza poliortofosfatos que envolvem o ferro dentro de uma grande molécula, isolando-o do meio ambiente e impedindo sua oxidação pelo ar.
É indicado para águas com teor de ferro de até 4 mg por litro e consiste na instalação de uma bomba dosadora e um pequeno reservatório para o complexante.
Conclusão
A água com ferro representa um paradoxo interessante para a saúde humana: enquanto o mineral é essencial para diversas funções vitais do organismo, seu excesso pode causar problemas graves tanto para a saúde quanto para o uso cotidiano da água.
A chave para lidar com esta questão está no equilíbrio e no tratamento adequado.
Para a maioria dos brasileiros que utilizam água de poços artesianos com excesso de ferro, a solução passa pelo tratamento adequado da água antes do consumo, utilizando métodos como aeração, cloração, filtração ou complexação.
Por outro lado, em contextos de saúde pública onde a deficiência de ferro é prevalente, a fortificação controlada da água pode ser uma estratégia eficaz para combater a anemia ferropriva.
Se você suspeita de excesso de ferro na água que consome, entre em contato conosco para uma avaliação mais detalhada.